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31 de janeiro de 2012

Direitos humanos não são arma

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REUTERS
Na primeira visita à Ilha, Dilma condenou o bloqueio econômico ao país
Em Havana, a líder brasileira evitou falar de assuntos ligados a violações específicas atribuídas a Cuba
Havana. Instada nos últimos dias por dissidentes do governo cubano a falar sobre violações de direitos humanos na Ilha, a presidente Dilma Rousseff disse a jornalistas ontem em Havana que só tratará do tema em "perspectiva multilateral" e afirmou que a questão não pode ser "só uma arma de combate político-ideológico".

"Nós vamos falar de direitos humanos em todo o mundo? Vamos ter de falar de direitos humanos no Brasil, nos EUA, a respeito de uma base aqui que se chama Guantánamo", respondeu a presidente, logo após depositar flores no memorial de José Martí, herói nacional cubano, na primeira parte de sua agenda oficial em Cuba.

"Não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de combate político-ideológico", afirmou Dilma, que esteve presa e foi torturada durante o regime militar (1964-1985).

A morte na semana passada do dissidente Wilman Villar, que estava em greve de fome em um presídio cubano, colocou pressão sobre a presidente brasileira para levantar publicamente a questão da defesa dos direitos humanos durante sua visita à ilha caribenha.

"Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós no Brasil temos o nosso. Então eu concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral", disse Dilma.

A líder brasileira chegou a Cuba na segunda-feira (30) para uma visita de dois dias. A jornada incluiu reunião com o presidente cubano, Raúl Castro, e um encontro com o ex-líder cubano Fidel Castro.

Blogueira

Questionada se falaria com autoridades cubanas sobre o caso da blogueira Yoani Sánchez, que espera do governo da ilha autorização para ir ao Brasil, Dilma respondeu: "O Brasil deu seu visto para a blogueira. Agora, os demais passos não são da competência do governo brasileiro".

Sánchez, crítica do regime dos Castro, recebeu na semana passada da embaixada brasileira em Havana visto de turista para visitar o Brasil para participar do lançamento de um documentário, no dia 10.

O governo de Cuba, porém, deve conceder um "visto de saída" à opositora. A resposta oficial cubana deve sair na próxima sexta-feira.

O foco da visita da presidente é o comércio bilateral, e novos acordos comerciais com a ilha devem ser assinados. Ela visitou o porto de Mariel, onde o Brasil ajuda a financiar uma reestruturação de US$ 800 milhões.

Embargo

Dilma afirmou que o País quer cooperar com Cuba nas reformas anunciadas por Raul Castro e que dão aos cubanos o direito de comprar e vender casas, carros e de abrir pequenos negócios particulares. Para tanto, disse a presidente, o Brasil pretende continuar lutando para que os Estados Unidos suspendam o embargo comercial imposto à ilha desde 1962.

Para Dilma, essa é a forma de o Brasil contribuir com esse processo, que, segundo ela, "não leva à grande coisa". "Leva mais à pobreza e a um problema às populações que sofrem a questão do bloqueio, do embargo, do impedimento do comércio", declarou, lembrando que o País tem um financiamento, por meio de crédito rotativo, de US$ 400 milhões para que Cuba importe alimentos brasileiros.

Em 2011, os preços dos alimentos na ilha subiram quase 20%. Além disso, o governo aprovou a concessão de financiamento para que Cuba compre pequenos tratores e colheitadeiras para estimular a produção. Nessa modalidade, o crédito oferecido ao país caribenho é de US$ 200 milhões, de acordo com informações da própria presidente.

A Câmara de Comércio Exterior (Camex) também financia a ampliação do Porto de Mariel, obra que está a cargo da empreiteira Odebrecht. "Trata-se de um sistema logístico de exportações de bens", disse. Dos cerca de US$ 900 milhões investidos no porto, o Brasil contribui com cerca de US$ 640 milhões. "Nós achamos que é fundamental que se crie aqui condições de estabilidade para o desenvolvimento do povo cubano", disse Dilma.

A presidente chegou a Cuba, na segunda-feira, acompanhada dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Alexandre Padilha (Saúde). Esta é a primeira visita da brasileira ao país como presidente.


Fontediariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1100580:

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